quinta-feira, dezembro 07, 2006

Nem tudo está perdido

Matérinha que eu fiz para o grande e prestigiado jornal Folha de Jardinópolis. Abaixo, a versão não mutilada pelos editores. Malditos editores... hehehe.
A versão que saiu impressa você vê aqui e aqui.
.________________________________________
.
Ribeirão Preto se movimenta nos subterrâneos
Grupo de pessoas tenta consolidar uma cena alternativa na cidade
.
......................................................................Divulgação/TUTU

.
Em Ribeirão Preto, e em grande parte das cidades da região, é difícil encontrar baladas fora do esquema rave-micareta-música eletrônica de rádios comerciais. Quem gosta de um som mais alternativo e diferente, na falta de opção, é obrigado a inventar sua própria balada. Pensando nisso, e se utilizando do velho lema punk do ‘faça você mesmo’, algumas pessoas começaram a se movimentar para mudar esta situação.
Em 2002, um grupo de djs decidiu criar o coletivo TUTU com o objetivo de criar festas onde a música fosse não-comercial e esse conceito também fosse estendido para as pessoas. Mesmo causando certa estranheza num primeiro momento, o grupo resolveu arriscar e seguir em frente.
“No começo foi difícil, pois o público estava pouco acostumado ao tipo de som que estávamos tocando”, conta Danilo Psico, um dos membros do TUTU. Logo o leque de pessoas que passou a freqüentar as festas do grupo aumentou. “Nas festas pode-se encontrar de tudo. Branco, preto, rico, pobre, hétero, homo. Mas todos têm algo em comum: o desejo de ir a uma festa que reúna pessoas descontraídas com uma música de qualidade”, diz ele.
Notando a carência da cidade em eventos como este, outras pessoas também começaram a criar mais festas. Tiago Ferreira se mudou para Ribeirão Preto e com a ajuda de amigos resolveu criar um festival que incluísse bandas alternativas, discotecagem e exposição de arte. Desta forma surgiu, o Groselha Fuzz que em sua primeira edição contou com 7 bandas, discotecagem do grupo STUDIO11 de Franca além de venda/exposição de livros de arte e grafitti. “A proposta da Groselha Fuzz é de apresentar artistas que tenham algum diferencial em seu trabalho e colocar Ribeirão Preto na rota de bons shows”, explica Tiago.
O festival não se restringe apenas às festas com bandas e discotecagem e também oferece ações culturais com oficinas e exposições e já tem em seu currículo cerca de vinte eventos realizados além de vários nomes de destaque na cena independente nacional e internacional (como a banda argentina Corazones Muertos e Joe Lally, baixista da banda norte-americana Fugazi). “O critério de seleção das bandas, basicamente, gira em torno de artistas com trabalho próprio que apresentem algum diferencial, que tenham qualidade e espontaneidade. Há uma dose de bom senso, claro. Por exemplo, se no último evento tocou uma banda de surf music, não vou colocar outra banda de surf music no evento seguinte”, diz Tiago.
Outro grupo que agita a cidade é o Meia Dúzia Djs responsáveis pelas festas Hey Ho! especializadas em rock’n’roll. Todos esses grupos possuem intercâmbio entre si. Com isso, o movimento vai ficando cada vez maior. “Tentamos sempre manter certo diálogo. E também há um núcleo de pessoas que freqüentam sempre as mesmas festas”, diz Daniel Chiaretti, um dos seis djs do projeto.
Porém um grande empecilho para que estas festas aconteçam é a falta de lugares adequados e que estejam interessados em abrir espaço para uma cultura mais alternativa. Em Ribeirão, hoje, são poucos os bares que reservam noites voltadas para um som diferenciado do habitual. Alguns dignos de nota são o Bronze Night Club, Liver Power Rock (conhecido como Porão), Mogiana, Paulistânia Rock Bar e mais recentemente foi inaugurado o Penélope Bar. “Para bandas alternativas, praticamente não há lugares para tocar. No caso do Groselha Fuzz, sempre foi necessário adequar o espaço à festa, que já aconteceu em oito lugares diferentes entre boates, pubs e chácaras”, explica Tiago. “O que falta na cidade é um bar que tenha sua programação voltada apenas à música alternativa, fato este que está próximo de acontecer, acredito eu”, diz Danilo Psico, do TUTU.
Para diminuir um pouco esta carência, um espaço voltado para a arte alternativa acaba de ser inaugurado em Ribeirão Preto. O Espaço Cultural ‘A Coisa’ tem como objetivo criar um intercâmbio cultural através das artes e por quem as produz, as pessoas. O local é um projeto dos membros da revista ARP (que cobre a arte alternativa de Ribeirão e região) e abre espaço para música, poesia, cinema, teatro, discussão de idéias além de oferecer oficinas culturais e possuir uma biblioteca coletiva onde todos os livros foram doados por quem freqüenta o local.
Além disso, o próprio local também serve como instrumento artístico já que as pessoas que o freqüentam podem escrever, pintar ou desenhar nas paredes internas do lugar. “Todo sábado organizamos saraus produtivos cuja programação varia entre as pessoas que visitam o local e trazem as suas diferentes artes e peças de teatro. ‘A Coisa’ é uma possibilidade de criar bases de convivências duradouras e produtivas na cidade”, diz Lucas Arantes, responsável pelo local.
Com pessoas dispostas a movimentar a cultura underground, alguns locais abrindo espaço e até uma revista voltada para esse aspecto, será que dá para se dizer que a cidade possui uma ‘cena’ alternativa? “Acho complicadíssimo falar de ‘cena alternativa’ na cidade, pois não vejo grandes movimentos. Vejo um público curioso, interessado. Acho que ainda é cedo para considerar uma cena alternativa na região”, diz Tiago Ferreira.
“Para a cena se desenvolver, todas as pessoas envolvidas devem trabalhar em conjunto, já que a cidade tem sim potencial para abarcar diversos projetos do gênero. No entanto, essa camaradagem não pode prejudicar a cena, criando um clima no qual até mesmo os projetos ruins são elogiados. Senso crítico, portanto, é fundamental”, explica Daniel Chiaretti.
Apesar de, aparentemente, ainda não estar consolidada, a tal cena independente está perto de se concretizar. “A diversidade musical que está sendo criada aqui é incrível, difícil de se ver em mundo tão segmentado e formado de rótulos como o de hoje. Admito que é a minoria das pessoas, mas está acontecendo”, conclui Danilo Psico.
___________________________________

.
Serviço
.
* Meia Dúzia Djs
Contato: www.myspace.com/meiaduzia
www.flickr.com/photos/meiaduzia
Próxima festa: “Hey Ho Ho Ho!” dia 23/12 (especial de natal)
_______________________________________________________
.
* TUTU
Contato: tutublack.sites.uol.com.br
http://tutublack.nafoto.net/
Próximos eventos:
TUTU 4 Anos no bronze c/ DJ Paulão (SP) – sexta, dia 8/12
“Lost in Music” 1 ano c/ TETINE (Londres) – sexta, dia 15/12 no Penélope.
________________________________________________
.
* Groselha Fuzz
Contato: www.myspace.com/groselhafuzz
http://www.flickr.com/photos/groselhafuzz
__________________________________________________
.
* Espaço Cultural ‘A Coisa’
Contato: Rua Amador Bueno, 1300 (Funcionamento: de seg. a sexta a partir das 15h.
Fone: 9728-9769
arpnacoisa@hotmail.com