domingo, julho 08, 2007

O show do ano... até agora

Abaixo a resenha que eu fiz do show dos Mutantes em Ribeirão Preto mês passado.
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* Texto publicado em suplemento encartado no jornal "Folha de Jardinópolis" no dia 26.06.2007
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Mutantes fazem história em Ribeirão, mais uma vez
(16.06.2007)
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O simples fato de a banda se apresentar na cidade já seria digno de registro, já que o último show oficial da banda (já desfalcada, é verdade) sobre a alcunha “Os Mutantes” aconteceu no Teatro de Arena no longínquo ano de 1978 para pouquíssimos espectadores. Este show selou o fim do grupo e botou a cidade pra sempre na história da banda.
Quase 30 anos depois a trupe mutante volta a Ribeirão, desta vez para tocar em um festival com mais de 20 mil pessoas no calcanhar da banda. Seja por puro desconhecimento de causa (a maioria do público não conhecia o grupo), seja por curiosidade e, quem sabe, até desconfiança. Na lateral do palco, via-se Marcelo D2, membros do Charlie Brown Jr. e Skank (bandas que já tinham se apresentado mais cedo no festival) se espremendo pra ver se os tiozinhos ainda tinham bala na agulha. O show era como a prova dos nove, a chance definitiva de exorcizar os fantasmas do passado, se é que eles ainda existiam.
A banda sobe ao palco ao som de “Dom Quixote”, como se mostrasse que já estava pronta para batalha. Em seguida tocam a psicodélica “Tecnicolor”. O estranhamento da platéia termina logo na terceira música, “Cantor de Mambo”, que faz o povo dançar. Apesar da visível debilidade física causada pelos excessos dos anos 60, Arnaldo Baptista (cérebro da banda) mostra que ainda dá conta do recado e arrisca até alguns improvisos vocais durante a música.
Sem papo com a platéia, o show segue com “El Justiciero”, em versão enérgica. Durante a música o guitarrista Sérgio Dias vai destilando seu discurso em bom portunhol dizendo que hoje não há mais Collor, nem ditadura. O inimigo é a juventude. “El justiciero, ayudame, por favor”, grita ele apontando para alguém na lateral do palco. Seria uma crítica às bandas contemporâneas que “falam muito, mas não têm nada a dizer”?
Começam os acordes de “Baby” e Sérgio Dias anuncia um “convidado muito especial, o grande justiceiro”. Eis então que sobe ao palco ninguém menos que Caetano Veloso, o pai da criança. Mesmo com o cantor (que se apresentaria na cidade na noite seguinte ) esquecendo parte da letra, a platéia vibra como se não acreditasse na história sendo escrita ali, naquele momento. Fazia mais de 30 anos que os tropicalistas não dividiam o mesmo palco.
Com a platéia já ganha, a banda se solta e enfileira um clássico atrás do outro. Marcaram presença músicas como “Virgínia”, “Bat Macumba”, “A Minha Menina”, “2001”, “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer”, e uma seqüência matadora de “Balada do Louco”, “Top Top” e “Ando Meio Desligado”, com direito a citação a “While My Guitar Gently Weeps”, dos Beatles, num momento guitar-hero de Sérgio Dias.
Sérgio, aliás, é quem comanda a festa. Chama a responsabilidade para si e posa como o maestro do grupo sem, é claro, ofuscar o resto da competente banda de apoio. Zélia Duncan não compromete e parece confortável no posto de coadjuvante. O baterista Dinho Leme mostra que continua sendo um monstro judiando sem dó seu instrumento. Faz solos incríveis para quem diz que não tocava há mais de 30 anos.
A banda encerra a apresentação numa apoteótica versão de “Panis et Circenses” e mostra por que é considerada uma das maiores bandas da história do rock e porque influenciou artistas tão diversos que vão de Kurt Cobain a Beck, de David Byrne a Flaming Lips. No fim, Arnaldo (piadista nato), ainda tem fôlego para ir à beirada do palco e fazer umas boas dez flexões. O gênio ainda vive.
Esqueça o resto, esse é O SHOW para ver em 2007

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