segunda-feira, julho 02, 2007

Versions

.
O que esperar de um álbum de covers? O que esperar de alguém que faz um álbum de covers? Afinal, isso é ganhar dinheiro com o trabalho dos outros, certo? Ou como diz um amigo meu: "é que nem gozar com o pau dos outros". Não rola.
No Brasil (e lá fora também) muitos artistas acabam utilizando esta artimanha de pegar uma música famosa ou de algum artista idem e meio que se apropriar dela. Geralmente quem faz isso são aqueles "artistas" sem talento algum para fazer um verso ou melodia decentes, quiçá uma música que preste. Os exemplos são muitos: Britney Spears, Wanessas Camargo, Sandy & Juniors e por aí vai. Pessoas como essas não justificam seu patamar pois jamais fizeram coisa alguma para que possamos dizer que elas possuem uma "carreira" pois não apitam nada na dita cuja. São meros joguetes da indústria, pessoas fabricadas para serem produtos. Ou melhor, são apenas instrumentos para ajudar a vender posturas, imagens, estilos ou tendências que a indústria do entretenimento julga ser a forma mais eficaz de obtenção de lucro. Enfim, o assunto é extenso e saboroso mas eu me aprofundo nele um outro dia.
Voltando aos covers e tal. Alguns artistas não só optam por tocar músicas de outros artistas como também preferem fazer versões destas músicas, seja mudando totalmente a estrutura das mesmas, seja cantando-as em outro idioma (no Brasil o mais comum é o português, dã...). Muitas vezes pegam uma música tão antiga que o público mais desligado acaba pensando que são inéditas e acaba tornando-as (inconscientemente) hits de novo. Pode-se citar como casos 'recentes' as horrendas versões de "Starman" do David Bowie que virou "Astronauta de Mármore" nas mãos dos mais horrendos ainda Nenhum de Nós e "The Passenger" dos Stooges que o Capital Inicial gravou no disco que os trouxe de volta ao mainstream brasileiro.
Amiga minha certa vez teve a audácia de me dizer: "Olha só aquele cara que você gosta fazendo um cover do Capital Inicial". Abri o link no youtube e lá estava Iggy Pop tentando imitar o Dinho Ouro Preto. Cruzes! Em que mundo esse povo vive?
Se formos mais fundo ainda nesse assunto, numa análise mais 'maquiavélica', seria heresia considerar a Jovem Guarda, a primeira fase de Roberto Carlos e os primórdios do rock brasileiro um grande engodo? Afinal este período nada mais é do que uma punhetação acerca de sucessos de Elvis, Little Richard, Beatles e outros representantes do iê iê iê, certo? Bom, isso daria um outro post. Fica pra próxima.
Enfim, essa moda de cover e versões sempre existiu e vai continuar existindo. Hoje em dia com a onda dos mashups, remixes, edits, etc a coisa tende a ficar maior ainda. E também mais interessante já que a idéia é misturar, misturar e misturar. Seja o vocal de uma música com a guitarra de outra e a batida de uma terceira ou então apenas um intéprete totalmente improvável para uma canção. Essa salada pode render verdadeiras pérolas. Danger Mouse e seu "Grey Album" podem ser considerados os maiores exemplos dos tempos atuais. Mas sobre isso eu já comentei em outra oportunidade.
Tá, agora vamos ao objetivo inicial deste post. Gastei todas estas linhas para falar de um disco que meio que confirma esta tendência. Trata-se de "Versions" do Mark Ronson. Para quem não conhece, Ronson é um produtor ultra-mega-hiper-cool-comedor-de-modelos-famosas que está bombadaço lá fora. Todo esse hype em volta do rapaz se deve ao fato de ele recentemente ter feito remixes e a produção de excelentes discos. No portfólio do rapaz estão gente do naipe de Macy Gray, Lilly Allen e Amy Winehouse para ficar em alguns. Além de estar por trás do sucesso das duas barraqueiras mais talentosas do mundo hoje, dizem que ele ganhou 80 mil doletas para tocar no casamento do Tom Cruise. Ronson também conseguiu fazer o carrancudo Bob Dylan liberar, pela primeira vez na história, uma música sua para que façam um remix. Ronson promete botar seu toque funky-soul na música "Most Likely You'll Go Your Way (And I'll Go Mine)" para ser incluída em um disco triplo do velho Dylan, programado para ser lançado em outubro. Além de todas essas façanhas, o cara ainda está cotado para assinar a música tema do próximo filme do 007 que, por sua vez, (dizem) será interpretada pela Amy Winehouse. Ronson até já ameaçou não trabalhar no próximo disco da cantora se ela cantar a música e não chamá-lo para produzir.
"Versions", o disco, é exatamente o que o título diz: versões para músicas de sucesso e outras nem tão sucesso assim. O mais legal é que Mark Ronson utiliza seu talento para desconfigurar totalmente as músicas adicionando saxofones, linhas de baixo funkeadas, guitarrinhas ensolaradas e tecladinhos espertos aqui e acolá para fazer um dos discos mais legais do ano. Nesse balaio, Ronson aplica suas bruxarias em músicas de Radiohead ("Just"), Charlatans ('The Only One I Know"), Coldplay ("God Put A Smile Upon Your Face" - se a original já é bem acima da média imagina a versão de Ronson ) e até Smiths ("Stop Me If You Think You've Heard This One Before" que no disco ficou apenas "Stop Me").
.
* "Just" (Radiohead) + "California" (Tema do seriado 'The OC') ao vivo no mega festival Glastonbury na semana passada. Saca só a vibe da galera. Tim Festival, alguém?



.
Aproveitando sua fama de boa praça e de queridinho do mundo da música atualmente, o cara não marcou tôca e botou um monte de convidados especiais no disco. Estão lá Paul Smith do Maximo Park e os caras do Kasabian supervisionando a mutação de seus filhotes em "Apply Some Pressure" e "L.S.F", respectivamente. Até o "boy band fat dancer" Robbie Williams aparece cantando a música do Charlatans.
As pupilas Lilly Allen e Amy Winehouse também aparecem para interpretar, respectivamente, "Oh My God" dos Kaiser Chiefs e "Valerie" dos The Zutons (em versão 'banda completa'). Tudo isso permeado com uma atmosfera Marvin Gaye/ bailes do Tim Maia num disco que deixa qualquer pessoa feliz durante o dia inteiro. Sensacional. Eu recomendo.
.
* Kaiser Chiefs + Mark Ronson babando pela Lilly Allen em versão Fergie no clipe de "Oh My God"


Marcadores: , , , , , , , , , , ,